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segunda-feira, 1 de julho de 2013

ARQUEOLOGIA HOJE: CULTURA MATERIAL E ADAPTABILIDADE

SEDA, Paulo – Editorial – Arquivo Philía – ARQUEOLOGIA HOJE: CULTURA MATERIAL E ADAPTABILIDADE


            Modernamente entende-se não ser possível compreender as populações humanas fora de seu ambiente. A cultura representaria o instrumento de interação homem/ambiente. Arqueologicamente, este dinamismo reduz-se a restos, normalmente, materiais, que refletem ambientes, demografia e atividades humanas passadas, em outras palavras, dados arqueológicos. Cabe ao arqueólogo, não somente revelar estes dados materiais, mas, sobretudo, procurar compreender as inter-relações entre estes dados, dentro de um sistema dinâmico. Desta forma, como observa LEROI-GOURHAN:

 Se se considera o documento pré-histórico não mais como um calendário mas como um texto, a atividade essencial da pesquisa não se encontra mais na reflexão interpretativa sobre os objetos devidamente recuperados na sua ordem estratigráfica, mas na leitura do documento que é constituído pela superfície descoberta pela escavação, documento efêmero, amálgama de poeira, pedras, restos de ossos, cujo valor fundamental reside apenas nas relações mútuas dos elementos que o compõem (1976: 92).

            O arqueólogo objetiva decodificar as informações contidas em cada dado estudado, ler as relações que cada peça contém, considerando sempre que tudo se associa em uma rede de relações, sendo impossível abordar-se cada parte sem abordar-se o todo. A adaptabilidade humana pode ser vista como um conjunto de subsistemas, como a tecnologia, os padrões de assentamento, os meios de subsistência e mesmo a arte.
             Obviamente é impossível, apenas pelos restos materiais, reconstituirmos todos os aspectos da vida das populações passadas, assim, hipóteses e modelos devem ser testados, através da conduta observável de persistências, comparáveis, destes aspectos. Assim, os restos materiais demonstram padrões de comportamento, vinculados a contextos ambientais, passados e, a partir de uma abordagem sistêmica, entendendo a cultura como um sistema de partes inter-relacionadas e inter-atuantes, relacionando-se dinamicamente com o meio ambiente, resulta que:

 o resultado lógico desta posição é a convicção de que um dos principais objetivos da arqueologia deve ser correlacionar a estrutura dos restos materiais com os elementos de conduta de um sistema cultural (WATSON, LeBLANC e REDMAN, 1981: 81).

            A arqueologia pretende explicitar as relações entre comportamento humano e cultura material em qualquer tempo  e considerando que a cultura material reflete e interfere no meio, os restos arqueológicos, por suas propriedades, podem permitir inferências sobre algum fenômeno específico ou sobre como e por que as sociedades mudam, bem como operam tais mudanças.
            O princípio básico em qualquer conjunto de restos arqueológicos é que os produtores de tal conjunto, desenvolvendo uma adaptabilidade, orientaram suas atividades de forma metódica. Assim, o conjunto reflete tanto o padrão de suas atividades como a sua integração e cada resto contém todos os níveis das manifestações culturais e sociais de seus autores, integrando-se em um conjunto completo em que cabe ao arqueólogo ler as relações que cada vestígio contém, desde um artefato até o próprio sítio.
            Assim, a arqueologia se mostra hoje uma ciência extremamente moderna e o trabalho do arqueólogo, atividade de profissionais altamente capacitados.

BIBLIOGRAFIA
LEROI-GOURHAN, André. Os caminhos da história antes da escrita. In: LE GOFF, J. e NORA, P. (dir.). História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976, pág. 89-98.
WATSON, P.J.; LeBLANC, S. e REDMAN, C.L. El método científico en arqueologia. Madrid: Alianza Editorial, 1981.

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